segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

O triunfo da real repugnância.

Talvez os dias mais difíceis de nossas vidas, sejam aqueles em que presenciamos e somos forçados a tomar conhecimento da mais pura realidade. E talvez, piores ainda, são aqueles dias em que percebemos que as decepções estão presentes no cotidiano, querendo ou não.
Hoje eu me calei sobre um estupro, ao qual deveria ter sido testemunha acídua e persistente. Eu estava no estacionamento - mais especificamente do lado de fora da cabine onde são retirados os papéis de comprovação por ter estacionado o carro em tal estabelecimento - quando contra uma parede suja e envelhecida, meus olhos alcançaram um sofá vermelho e um homem abusando sexualmente de uma garota que aparentava ter dez, onze, no máximo treze anos. Meus pensamentos se atrelavam e se difundiam diante daquela cena, por hora, eu não soube o que fazer.
Me senti totalmente confusa, afinal, eu estava parada contemplando um crime. Mas tudo em que eu conseguia pensar era na cor do sofá, ou na brutalidade que teria sido - quem sabe - tantas vezes realizadas ali, até ficar daquela cor, que aos meus olhos, cinco minutos antes era totalmente pura.
O pior de tudo, é que mesmo diante de toda aquela covardia, o máximo que eu conseguia imaginar era o quão aquela garota estava sofrendo; a vergonha que se esticava sob o seu corpo e o ódio que ela sentiria se soubesse que eu estava ali parada, que eu poderia ajudá-la e me sentia imune, embora não fosse. Por mais que essas fossem as minhas conclusões imediatas, eu pensei que tudo o que ela queria era livrar-se daquilo o mais rápido possível, imaginava o desejo dela pra que aquela frealdade acabasse e me questionava se pensava no que seria de sua vida depois que esse momento ficasse para trás. Porém, quando coloquei-me no meu lugar, vi que nada poderia ser feito para melhorar tal situação, que aquele momento estaria pra sempre presente na vida daquela criança.
Depois desse tempo inerte na janela da cabine, eu resolvi simplesmente que deveria ir embora e levei em minha mente todos aqueles gritos, aquela violência, a cena daquela garota no sofá e um cara gélido e frio esparramado sobre seu corpo sem dó, nem piedade.
Julgo fácil para mim deduzir que ela não deveria ser ajudada, nem ele punido. Mas a única coisa da qual eu tenho certeza, é que desse dia em diante, eu levarei toda aquela
crueldade comigo e jamais me perdoarei por ter sido tão fria a ponto de abandonar um ser frágil nas mãos de uma criatura tão errante.


- O texto é totalmente ilusório, ou seja, não possui vínculos com acontecimentos reais.

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