sábado, 22 de janeiro de 2011

Devorador de corações

Analisando os romances desde o limiar dos tempos, pode-se constatar que as formas de amar seguiram uma jornada de tranformações e substituições, no sentido mais amplo dos termos. Porém, o que prevaleceu e sempre prevalecerá - consciente ou inconscientemente no coração dos que já amaram - mesmo que pelo tempo mais curto que seja, é a certeza de que o lema seguido por todos, ou pela grande maioria é o seguinte: Um devora e dissipa o coração do outro, engolindo com travessura e malícia, sem abstrações dos malefícios que isso pode causar ao similiar, e assim a humanidade caminha, como se isso fosse absolutamente normal e extremamente racional.
O mais curioso de tudo, é o prazer que acaba envolvendo ambas as partes. Quem se alimenta dos sentimentos e consequentemente das energias alheias, sente-se excepcional, superior, fundamental e não demonstra importância para com o próximo - quando demonstra, é algo mínimo. Como decorrência disso, a outra pessoa se sente submissa, sem importância e desprovida de encantos, o que acaba alimentando seu lado "masoquista" (que é algo que, ao menos uma vez na vida, precisa ser estimulado - até mesmo pela experiência que pode ser obtida quando isso ocorre).
A verdade, talvez involuntária, é que - na maioria da situações - existe egoísmo e desinteresse demais, para sentimentos recíprocos de menos e enquanto isso imperar, todos nós seremos feridos ao menos uma vez onde a vida é mais frágil: o coração.

- A imagem acima, foi retirada do vídeo clipe da música 'A little piece of heaven' da banda norte-americana Avenged Sevenfold.


sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Eternidade exonerada

A saudade se encontra agora, impregnada em cada fração das minhas artérias. E não, não é a mesma saudade de alguns meses atrás em que eu sabia que a mesma poderia, hora ou outra, ser saciada da melhor maneira possível. É a saudade que, por alguma razão, chega a tornar-se melancolia e nostalgia.
De alguma forma, quando ele se foi, a quietude e a calma presentes em mim, simplesmente foram pra longe do meu lado e é verdadeiramente difícil encontrar um novo rumo, ou até mesmo regressar à antiga vereda. Todo o céu agora, imprime o meu coração estampado em fendas, e isso instiga as minhas idéias atarantadas de até quando vou continuar dizendo 'adeus' às pessoas que eu aprendo tão gentilmente a estimar.
Eu estou certa de que eu não quero ter esperança de mais nada, e passei a definir esse sentimento como sinônimo de preocupação e fé mal-fundamentada. Sinto como se as feridas de tudo que um dia não deu certo, estivessem se unificando e acabando por rasgar o meu peito lenta e dolorosamente, sem a mínima intenção de estagnar-se.
Não consigo expressar a intensidade do meu desapontamento comigo mesma. Como eu pude deixar o ar que eu provei e respirei tomar outro rumo? Como eu tive a capacidade de deixar essa escuridão tomar conta do que era o meu sonho, daquilo que um dia eu jurei desistir da eternidade para tocar?



- and I don't want the world to see me, cause I don't think that they'd understand

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

O triunfo da real repugnância.

Talvez os dias mais difíceis de nossas vidas, sejam aqueles em que presenciamos e somos forçados a tomar conhecimento da mais pura realidade. E talvez, piores ainda, são aqueles dias em que percebemos que as decepções estão presentes no cotidiano, querendo ou não.
Hoje eu me calei sobre um estupro, ao qual deveria ter sido testemunha acídua e persistente. Eu estava no estacionamento - mais especificamente do lado de fora da cabine onde são retirados os papéis de comprovação por ter estacionado o carro em tal estabelecimento - quando contra uma parede suja e envelhecida, meus olhos alcançaram um sofá vermelho e um homem abusando sexualmente de uma garota que aparentava ter dez, onze, no máximo treze anos. Meus pensamentos se atrelavam e se difundiam diante daquela cena, por hora, eu não soube o que fazer.
Me senti totalmente confusa, afinal, eu estava parada contemplando um crime. Mas tudo em que eu conseguia pensar era na cor do sofá, ou na brutalidade que teria sido - quem sabe - tantas vezes realizadas ali, até ficar daquela cor, que aos meus olhos, cinco minutos antes era totalmente pura.
O pior de tudo, é que mesmo diante de toda aquela covardia, o máximo que eu conseguia imaginar era o quão aquela garota estava sofrendo; a vergonha que se esticava sob o seu corpo e o ódio que ela sentiria se soubesse que eu estava ali parada, que eu poderia ajudá-la e me sentia imune, embora não fosse. Por mais que essas fossem as minhas conclusões imediatas, eu pensei que tudo o que ela queria era livrar-se daquilo o mais rápido possível, imaginava o desejo dela pra que aquela frealdade acabasse e me questionava se pensava no que seria de sua vida depois que esse momento ficasse para trás. Porém, quando coloquei-me no meu lugar, vi que nada poderia ser feito para melhorar tal situação, que aquele momento estaria pra sempre presente na vida daquela criança.
Depois desse tempo inerte na janela da cabine, eu resolvi simplesmente que deveria ir embora e levei em minha mente todos aqueles gritos, aquela violência, a cena daquela garota no sofá e um cara gélido e frio esparramado sobre seu corpo sem dó, nem piedade.
Julgo fácil para mim deduzir que ela não deveria ser ajudada, nem ele punido. Mas a única coisa da qual eu tenho certeza, é que desse dia em diante, eu levarei toda aquela
crueldade comigo e jamais me perdoarei por ter sido tão fria a ponto de abandonar um ser frágil nas mãos de uma criatura tão errante.


- O texto é totalmente ilusório, ou seja, não possui vínculos com acontecimentos reais.

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